Explosão que deixou 8 mortos e vários feridos em parque de Campina faz 46 anos

Tragédia em parque de diversões marcou história de Campina Grande (Foto: Imagem ilustrativa | Pixabay)

Há 46 anos, o que era para ser um dia de alegria acabou em tragédia em Campina Grande. Era Natal, 25 de dezembro de 1974. O cilindro de hidrogênio usado para encher balões em um parque de diversões explodiu, deixando oito crianças e adolescentes mortos e dezenas de feridos.

O parque de diversões estava instalado na Rua Campos Sales, próximo à Igreja de São José, no bairro José Pinheiro. Após a missa, as crianças foram brincar no parque. Algumas, não voltaram para casa. Outras, tiveram partes do corpo mutiladas. Nos hospitais de Campina Grande, o cenário era de caos.

“Era uma loucura. Gente correndo, enfermarias lotadas… parecia uma guerra. Eu vi médicos chorando”, recorda o repórter fotográfico Nicolau de Castro Souza, em depoimento ao documentário Balões de 74. O filme, que tem direção de Luciano Mariz, foi lançado em 2008 e reúne relatos de sobreviventes e testemunhas da tragédia.

“Garotos que tinham perdido as pernas… parece que eles não sentiam dor. Me perguntavam quando iam trazer as perninhas deles”, contou José Marques de Oliveira, outra testemunha. Ele morava próximo ao local do acidente e estava dormindo quando o cilindro explodiu.

“A explosão foi tão grande que eu senti a minha cama trepidar. Me levantei, fui até a garagem e ao olhar para rua vi meu pai junto do portão, quase caído, mas levantando uma criança nos braços. Eu até então não sabia do que se tratava, achei que fosse a roda gigante que tivesse caído, porque uma parte dela ficava na calçada da minha casa”.

José Marques de Oliveira

As memórias da tragédia, mesmo com o passar das décadas, permanecem vivas em Campina Grande. Pessoas que sequer haviam nascido na época do acidente conhecem a história, pois a escutam de seus pais e avós. Foi assim com o cineasta e professor Luciano Mariz. Ele já tinha ouvido falar na tragédia de 1974, mas decidiu fazer um filme sobre o caso após conhecer um sobrevivente da explosão.

“Ele tinha ido fazer um serviço de eletricidade na minha casa. Tinha muitas cicatrizes no rosto. Puxei assunto e ele começou a contar detalhes do acidente. Fiquei bastante impressionado, quis entender mais sobre o caso”, diz Luciano Mariz.

“Através da história oral, pude perceber que ainda havia muito trauma. Algumas pessoas não quiseram gravar depoimento. Por outro lado, vi que falar para o filme funcionou como uma espécie de cadeira emocional para algumas testemunhas. Vários depoimentos me marcaram muito. Alguns deles, por serem tão fortes, nem entraram no documentário”, relata o diretor, ao Portal Correio.

Impunidade

O cilindro de hidrogênio era responsabilidade do ambulante Adval Argemiro da Silva, natural de Recife, Pernambuco. Ele foi preso dois dias após o acidente, mas acabou liberado pela Justiça meses depois. Adval, que chegou a ser chamado de ‘garrafeiro da morte’ pela imprensa local, teria se mudado para São Paulo e nunca mais foi visto em Campina Grande.

Páginas do jornal Diário da Borborema — Fonte: ‘Enredando Memórias: O bairro de José Pinheiro e a tragédia de 1974’, por Juliana Nascimento de Almeida
No filme ‘Balões de 74’, testemunhas lamentam a impunidade do caso. “Nunca me conformei porque colocaram uma pedra em cima. É como se nunca tivesse acontecido. Para a prefeitura, para os políticos da época, não aconteceu nada”, diz Tereza Silva Santos, que perdeu a filha Edjane, de oito anos.

O sobrevivente Marcélio Felipe Henrique, que teve as pernas amputadas, conta que nunca recebeu assistência das autoridades. A falta de atenção do poder público com vítimas e parentes também revolta o médico José Morais Lucas: “Eu soube que há mutilados ainda sem nenhuma assistência, sem aposentadoria, inválidos. Eu acho que nunca é tarde para reparar erros ou omissões”.

Dedicatória

Os créditos finais de ‘Balões de 74’ dedicam o filme às vítimas da tragédia. Mas essa não foi a única homenagem às crianças e adolescentes que perderam a vida no bairro José Pinheiro. Durante a gravação de uma reconstituição do parque de diversões, algo impressionou a equipe.

“A cena era de um parque com velas em homenagens às vítimas. Estávamos preocupados porque era madrugada e seria muito difícil mantê-las acesas. Para nossa surpresa, o vento parou por uma hora. A cena foi gravada num silêncio absoluto, foi um momento muito forte. Ficamos todos muito emocionados. Eu fico até hoje só de lembrar”.

Luciano Mariz

‘Balões de 74’ foi premiado em festivais de cinema na Paraíba e no Piauí. O filme está disponível no YouTube.

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Créditos: Portal Correio

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